sábado, 2 de fevereiro de 2008

O PRINCIPEZINHO


Clássico da literatura infantil que os adultos não devem desdenhar, «O Principezinho» é um romance em torno de um menino que vive num asteróide e vem à Terra, num percurso em que são expostos de forma simples os conceitos de amizade, lealdade e dedicação, mesmo na presença de factores adversos, e onde é também mostrada com diversos cenários a pobre loucura dos homens nas suas interpretações redutoras do mundo esquecendo-se da máxima «o essencial é invisível aos olhos», passando ainda pela ilustração cómica de personagens que retratam tristes (não-)opções de vida que redundam em solidão, tais como o rei todo poderoso que só vive para o poder, o vaidoso que só vive para o que os outros lhe dizem, o bêbedo que vive unicamente para o seu vício, o homem de negócios que vive para os seus números, e o geógrafo que vive apenas para a sua ciência. Em diálogo com o aviador perdido, ao qual pede o desenho de uma ovelha, o menino, sem querer (limitando-se a ser menino), evoca os valores que deveriam ser os essenciais da vida, aprendendo ainda, pela sua própria experiência, as dificuldades e as recompensas das relações com os outros e os seus rituais, e o valor de cada amor ou amizade sempre únicos e que nunca são comparáveis com quaisquer outros.

Observações:
Para os adultos, recomenda-se (ainda) a leitura de outros livros de Saint-Exupéry que seguem a mesma linha de pensamento numa maturação mais aprofundada de questões existenciais colocadas num discurso simples e acessível, tais como «Terra dos Homens» e «A Cidadela».

Extracto:
Tenho boas razões para pensar que o planeta de onde o principezinho tinha vindo era o asteróide B612. Este asteróide foi visto ao telescópio uma única vez, em 1909, por um astrónomo turco. Nessa altura, o cientista fez uma grande demonstração da descoberta a um Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas crescidas são assim.
Felizmente, para a boa reputação do asteróide B612, um ditador turco lembrou-se de impor ao seu povo, mas impor-lhe sob pena de morte, que passasse a trajar à ocidental. O astrónomo tornou a fazer a demonstração em 1920, agora muito bem posto. E toda a gente a aceitou.
Se vos contei isto tudo sobre o asteróide B612 e se vos confiei o número dele foi por causa das pessoas crescidas. As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: «Como é a voz dele? A que é que ele gosta mais de brincar? Faz colecção de borboletas?» Em vez disso, perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa? Quanto ganha o pai dele?» Só então julgam ficar a saber quem é o vosso amigo.
Se contarem às pessoas crescidas: «Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado...», as pessoas crescidas não conseguem imaginá-la. Precisam de lhes dizer: «Hoje vi uma casa que custou cem mil euros.» Então já são capazes de a admirar: «Mas que linda casa!»

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