sexta-feira, 21 de março de 2008

LER

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Eugénio de Andrade: poesia

AS PALAVRAS

São como um cristal, as palavras.

Algumas, um punhal, um incêndio.

Outras, orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam; barcos ou beijos, as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes, leves.

Tecidas são de luz e são a noite.

E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?

Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?


QUE FIZESTE DAS PALAVRAS?

Que fizeste das palavras?

Que contas darás tu dessas vogais de um azul tão apaziguado?

E das consoantes, que lhes dirás, ardendo entre o fulgor das laranjas e o sol dos cavalos?

Que lhes dirás, quando te perguntarem pelas minúsculas sementes que te confiaram?