Da sua obra poética destacam-se, para além do volume de estreia, Lírios do Monte (1918), Poesia, Poesia II e Poesia III (1948, 1950 e 1961, respectivamente), recebendo este último o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores. A sua obra poética foi reunida em 1977-1978, em Poeta Militante. O seu pendor jornalístico reflecte-se nos volumes de crónicas O Mundo dos Outros (1950) e O Irreal Quotidiano (1971). No campo da ficção escreveu O Mundo Desabitado (1960), Aventuras de João Sem Medo (1963), Imitação dos Dias (1966), Tempo Escandinavo (1969) e O Enigma da Árvore Enamorada (1980). O seu livro de reflexões e memórias A Memória das Palavras (1965) recebeu o Prémio da Casa da Imprensa. É ainda autor de ensaios sobre literatura, tendo organizado, com Carlos de Oliveira, a antologia Contos Tradicionais Portugueses (1958).
Em Junho de 2000, foi lançada no porto a colectânea Recomeço Límpido, que inclui versos e prosas de dezenas de autores em homenagem a José Gomes Ferreira
IMPORTANTE É SALTAR O MURO
Aventuras do João Sem Medo, de José Gomes Ferreira - Panfleto mágico em forma de romance, onde abundam fadas e magias, conta a história de João Sem Medo, um rapaz que vivia com a sua mãe em Chora-Que-Logo-Bebes, uma aldeia ninhada perto do Muro construído em volta da Floresta Branca. Nenhum homem se atrevia a entrar lá, quanto mais um choraquelogobebense, que passava a vida a chorar. Mas, João Sem Medo era diferente. Como o próprio nome indica, não tinha medo de nada (ou fingia que não tinha), e um belo dia, farto daquela "chorinquice", decidiu saltar o Muro e assim o fez (embora contrariando a sua mãe). Passou-o com a maior das facilidades, talvez com ajudas mágicas e seguiu o seu caminho.
Nas suas aventuras para lá do Muro, teve de escolher caminhos difíceis para pensar por si mesmo, pois para ter uma vida fácil teria que "consentir que lhe cortassem a cabeça para não pensar". Sofreu dificuldades contra uma natureza feroz, representativa das dificuldades da vida quando se quer ser livre e não ter medo. Chegou a ser transformado em árvore. Fugiu da morte e passeou num gramofone com asas. Até passou por terras em que todos diziam o mesmo e outras em que faziam tudo ao contrário. Andou por desertos, onde teve que sacrificar tudo, até a cabeça, pelas coisas mais elementares como os alimentos. Foi mais tarde parar a uma sala sem portas, onde estava uma fada dos sonhos, que poderia realizar qualquer desejo, mas apenas por cinco minutos. Depois de sair desta sala, passou pela "cidade da confusão", da qual já falei anteriormente, onde tudo andava às avessas, de onde só conseguiu sair de comboio voador com o dinheiro que arranjou no circo enquanto o "fenómeno do avesso". João Sem Medo passou também pelo reino do "príncipe de orelhas de burro" que se julgava muito belo. Encontrou inclusive, pelo caminho, o cavalo de D. Quixote. Estas e muitas outras aventuras puseram à prova a coragem do João.
No regresso a casa, deparou-se com algumas dificuldades para voltar a saltar o Muro, pois não havia reunido as condições necessárias para o fazer, e, por isso, o guardião da pedra não o deixava ir. A solução foi dar a vida ao reflexo do João e fazer com que cada um deles ficasse num dos lados do Muro. Aquele que voltou para casa enriqueceu com uma fábrica de lenços. Ao menos assim conseguiu vencer as lágrimas.
Com esta história o autor pretendeu transmitir que se deve combater a "Maçada, Repetição, Monotonia, Chatice..." do dia-a-dia, utilizando a imaginação. Embora eu não ache que a vida seja uma chatice (a vida é bela!), aconselho a todos que leiam este livro, tanto aos jovens como aos adultos, e contará com uma prodigiosa imaginação. Se o fizer, terá ainda a possibilidade de soltar umas boas gargalhadas.
PERGUNTA DO MÊS DE MAIO:
Em "As Aventuras de João Sem Medo" identifica a personagem que regula o trânsito dos dois caminhos da floresta.